A cura para a diabetes tipo 1 pode estar num fármaco utilizado
amplamente para tratar a hipertensão arterial. Um novo estudo acaba de
provar que o medicamento, o verapamil, é capaz de reverter totalmente a
doença em modelos animais e o primeiro ensaio clínico com humanos
arranca já em 2015.
Os investigadores da Universidade do Alabama em Birmingham (UAB), nos
EUA, conquistaram, recentemente, uma bolsa de mais de dois milhões de
dólares para a condução deste ensaio com vista a apurar se o fármaco tem
o mesmo efeito nos pacientes, o que poderia significar a erradicação
deste tipo de diabetes.
De acordo com um comunicado da instituição universitária
norte-americana, os cientistas vão estudar uma abordagem diferente de
todas as que hoje sãpo utilizadas no combate à doença, focando-se na
promoção de células especializadas do pâncreas - as células beta -
responsáveis pela produção da insulina de que o organismo necessita para
controlar os níveis de glicose no sangue.
Ao longo de vários anos, a equipa da Universidade do Alabama provou que
os elevados níveis de açúcar no sangue fazem com que o corpo produza em
excesso uma proteína denominada TXNIP, que cresce no interior das
células beta como resposta à diabetes, conduzindo à sua morte e
sabotando os esforços do organismo no sentido de gerar insulina.
"Já demonstrámos, anteriormente, que o verapamil consegue prevenir a
diabetes e até revertê-la em modelos animais, bem como reduzir os níveis
da proteína TXNIP em amostras de células beta humanas, o que sugere que
poderá haver benefícios em pacientes reais", explica Anath Shalev,
cientista que será um dos coordenadores do ensaio clínico.
Segundo Shalev, "ao reduzir a TXNIP, mesmo no contexto de um quadro
grave de diabetes, há efeitos benéficos, atacando-se aquela que é a
principal causa da doença: a perda de células-beta".
"A nossa abordagem tenta combater esta perda promovendo, para isso, a
produção de células-beta e de insulina pelo próprio paciente, um tipo de
tratamento que, neste momento, ainda não existe", congratula-se o
investigador.
Ensaio clínico com humanos arranca no início de 2015
O ensaio clínico vai contar com a participação de 52 pessoas com idades
entre os 19 e os 45 anos que tenham sido diagnosticadas com diabetes
tipo 1 nos três meses anteriores ao seu início. Aleatoriamente, e
durante um ano, todos vão receber doses de verapamil ou de um
placebo, mantendo, ao longo desse período, as injeções de insulina.
Além disso, vão também dispor de um sistema contínuo de monitorização
de glicose que lhes vai permitir medir os níveis de açúcar no sangue
durante 24 horas por dia, sete dias por semana.
"Atualmente, podemos prescrever insulina e outros tipos de medicação
para reduzir os níveis de glicose, mas não temos forma de parar a
destruição das células beta, pelo que a doença continua a progredir",
realça Fernando Ovalle, cientista e diretor do centro para a diabetes da
UAB que vai também participar nos testes.
"Se o verapamil funcionar em humanos, estaremos perante um
desenvolvimento verdadeiramente revolucionário no que toca a esta doença
que, todos os anos, afeta um maior número de pessoas", acrescenta.
Uma vez que o modo de ação deste fármaco é muito diferente daqueles a
que os especialistas recorrem hoje em dia, esta investigação abre
caminho a um novo campo de estudos no âmbito da descoberta de soluções
contra a diabetes.
"Queremos encontrar novos medicamentos - diferentes dos atuais - que
consigam parar a epidemia mundial que é a diabetes e melhorar a vida das
pessoas afetadas pela doença", afirma Shalev. "Finalmente, temos razões
para acreditar que estamos no caminho certo", conclui.